Fatores de risco e principais causas do cancer

A maioria dos casos de câncer — cerca de 80%, segundo o Instituto Nacional do Câncer — está ligado a hábitos e comportamentos presentes no cotidiano das pessoas. Apenas os 20% restantes surgem em razão de fatores hereditários. Por isso, o câncer é considerado uma doença ambiental, relacionada ao estilo de vida.

 

São vários os hábitos que podem aumentar o risco de desenvolver câncer: tabagismo, dieta pobre em frutas e vegetais, a ingestão excessiva de álcool, a exposição exagerada e sem proteção ao sol, o uso de drogas injetáveis, o sexo casual sem proteção, entre outros. No entanto, a presença de um único fator de risco não costuma ser suficiente para determinar o surgimento da doença. Geralmente, é preciso uma combinação de fatores — e talvez certa predisposição genética — para que o câncer se manifeste.

 

O caso do tabaco é um bom exemplo disso. O hábito de fumar é sabidamente responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão. Entretanto, apenas 10% dos fumantes desenvolvem câncer de pulmão ao longo da vida.

 

O câncer é considerado uma doença ambiental, relacionada ao estilo de vida.

 

Fumo

A fumaça do cigarro libera mais de 50 substâncias com potencial de provocar o surgimento de tumores malignos no ser humano. Hoje, um terço dos casos de câncer no mundo é causado pelo fumo. Além do câncer de pulmão, que responde pelo maior número de mortes, o fumo pode provocar o desenvolvimento de tumores malignos em vários outros órgãos, como boca, laringe, esôfago, traqueia, estômago, pâncreas, bexiga, rins e colo do útero. Além disso, as substâncias presentes no cigarro podem tornar outros tumores mais agressivos. Os fumantes passivos também podem desenvolver os mesmos tipos de câncer que os tabagistas, porém seu risco é menor.

 

Consumo de bebidas alcoólicas

A ingestão excessiva de álcool pode potencializar os efeitos nocivos do fumo, especialmente no desenvolvimento dos tumores de cavidade oral, faringe, laringe e esôfago. Além disso, parece estar diretamente relacionada à formação do câncer de fígado e de mama. O ganho de peso, relacionado ao consumo de bebidas alcoólicas, também pode contribuir para o surgimento de tumores malignos.

 

Alimentação desequilibrada

Uma dieta rica em frutas, verduras e legumes ajuda a proteger o organismo contra o surgimento de diversos tipos de câncer. Esses alimentos apresentam substâncias que combatem os radicais livres, moléculas capazes de provocar mutações nas células do organismo. Já o consumo de alimentos defumados ou em conserva está associado ao surgimento de câncer no estômago e em outros órgãos, por conter substâncias cancerígenas.

 

O consumo excessivo de carnes vermelhas, especialmente as preparadas em churrascos, também é considerado um fator de risco para o desenvolvimento do câncer, especialmente de cólon ou de reto.

 

Obesidade

A obesidade é considerada um fator de risco independente para diversos tipos de câncer, sendo claramente relacionada a uma maior incidência do câncer de mama na mulher. Acredita-se que o excesso de peso possa aumentar a produção de hormônios — o estrogênio, nas mulheres, e a testosterona, nos homens —, os quais, em doses altas, favoreceriam o surgimento ou o desenvolvimento de tumores sensíveis a eles.

 

Além disso, estudos recentes indicam que o aumento de gordura corpórea favoreceria o desenvolvimento do câncer por determinar um aumento de radicais livres e a formação de compostos pró-inflamatórios. Essas substâncias responderiam pelo surgimento de mutações.

 

Outra explicação bem aceita para a maior incidência do câncer em obesos diz respeito ao aumento da insulina circulante em resposta à perda de sensibilidade de seus receptores, que ocorre nos indivíduos com aumento do peso. A insulina poderia estimular diretamente receptores de crescimento celular em vários tecidos, favorecendo o desenvolvimento do câncer.

 

É mais provável que todos esses fatores se combinem para o desenvolvimento dessas doenças nos pacientes obesos.

 

Sedentarismo

Assim como a alimentação balanceada, a prática regular de atividade física ajuda a fortalecer as defesas do organismo. E um sistema imunológico fortalecido é mais eficiente no combate às células malignas. Além disso, contribui para reduzir a quantidade de gordura no organismo e evitar a obesidade. Estudos mostram que mulheres que praticam atividade física regularmente apresentam risco 60% menor de desenvolver câncer de mama.

 

A obesidade é um fator de risco para o surgimento de tumores malignos.

 

Infecções por vírus e bactérias

Alguns vírus e bactérias podem se fundir ao código genético das células e, com isso, provocar mutações que levam ao surgimento do câncer. Isso ocorre especialmente em pessoas que apresentam outros fatores de risco para a doença ou uma deficiência imunológica.

 

Os principais agentes infecciosos relacionados ao desenvolvimento do câncer são: papilomavírus (HPV), vírus transmissível sexualmente e associado ao câncer de colo de útero e canal anal; vírus das hepatites B e C, relacionados ao câncer de fígado; vírus da herpes tipo 8 (EBV), que pode levar ao surgimento de linfomas; e Helicobacter pylori, bactéria que causa úlceras e está ligada ao câncer de estômago. Estima-se que cerca de 15% dos tumores malignos diagnosticados no mundo estejam relacionados a infecções por algum desses agentes.

 

Nesses casos, a melhor forma de prevenção é a vacinação, já disponível para hepatite B e para o HPV. Além disso, sexo seguro com o uso de preservativos é recomendado como prevenção de várias doenças, incluindo todas as virais mencionadas anteriormente.

 

O câncer de colo do útero é o terceiro tumor mais frequente na população feminina e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. Vale ressaltar que o exame ginecológico de rastreamento (preventivo), chamado teste de Papanicolaou, permite identificar alterações muito precoces e curáveis.

 

Fatores ocupacionais

A exposição frequente a substâncias tóxicas em função da atividade profissional também pode levar ao surgimento de diferentes tipos de câncer. Por exemplo, o contato com corantes pode levar trabalhadores de indústrias têxteis a desenvolver câncer de bexiga. Já os profissionais que precisam lidar com benzeno, produto comum em indústrias químicas, apresentam maior risco de ter linfomas e leucemias.

 

O amianto é um mineral extraído das rochas e muito utilizado na indústria. A substância é classificada pela Agência Internacional de Pesquisa (IARC) no grupo 1 — o dos reconhecidamente cancerígenos para os seres humanos. Esse mineral pode levar ao surgimento de vários tipos de câncer. Dentre eles, o câncer de pulmão, laringe, trato digestório, ovário e pleura. Devido a esse alto risco, o uso do amianto foi proibido em 52 países.

 

No Brasil, vários municípios e estados possuem legislação restritiva ao uso do amianto, e em quatro deles existe a proibição formal de sua exploração, utilização e comercialização, como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco.

 

Radiações

A exposição intensa aos raios ultravioletas da luz solar é um fator significativo de risco para o surgimento de câncer de pele. Já a exposição a raios X, gama e a partículas atômicas pode provocar mutações e causar vários tipos de câncer, como leucemias, linfomas, câncer de tireoide, mama e pele.

 

O câncer de pele é o mais frequente no Brasil, representando cerca de um quarto de todos os tumores diagnosticados.

 

A principal causa do câncer de pele é a exposição à radiação ultravioleta proveniente do sol, sendo que pessoas com pele clara apresentam maior risco.

 

A forma mais eficaz de prevenção é evitar se expor ao sol no período das 10h às 16h, quando a radiação ultravioleta é mais intensa. Além disso, é importante se proteger quando estiver ao ar livre, com aplicação frequente de filtros solares, uso de chapéus, bonés, roupas protetoras e óculos.

 

Os efeitos da exposição ao sol são cumulativos, por isso é importante evitar se expor ao sol sem proteção desde a infância.

 

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se que menos de 3% dos cânceres resultem da exposição às radiações ionizantes. Estudos feitos entre os sobreviventes da explosão das bombas atômicas e entre pacientes que se submeteram à radioterapia mostraram que o risco de câncer aumenta em proporção direta à dose de radiação recebida e que os tecidos mais sensíveis às radiações ionizantes são o hematopoiético, o tireoidiano, o mamário e o ósseo. As leucemias ocorrem entre dois e cinco anos após a exposição e os tumores sólidos surgem entre cinco e dez anos.

 

O risco de desenvolvimento de um câncer é significantemente maior quando a exposição dos indivíduos à radiação aconteceu na infância.

 

Hereditariedade

Nos últimos 20 anos, foi possível identificar vários genes cujas mutações estão relacionadas a um maior risco de desenvolvimento de algum tipo de câncer.

 

Os indivíduos que carregam essas mutações são considerados com predisposição genética para o câncer. Isto é, eles têm um risco muito maior de desenvolver algum tipo de câncer durante a vida, o que muito frequentemente acontece em idades mais precoces.

 

Deve-se suspeitar da existência desses genes alterados em famílias com vários casos de câncer, especialmente quando o diagnóstico se dá antes dos 40 anos.

 

Hereditariedade versus câncer de mama

No caso do câncer de mama hereditário, mutações dos genes BRCA1 ou BRCA2 são responsáveis pela maioria dos casos.

 

A mutação do gene BRCA2 é a mais frequente, ocorrendo em 1 a cada 740 casos de câncer de mama diagnosticados. Para as portadoras dessa mutação, o risco de desenvolver um câncer de mama até os 70 anos de idade é de 45%. Essa mutação aumenta o risco de câncer de mama também nos homens que a apresentam. Outros diagnósticos de câncer estão bastante aumentados nessas famílias, dentre eles o de ovário, próstata, pâncreas e estômago.

 

A mutação do gene BRCA1 ocorre em 1 a cada 860 casos e confere um risco ainda maior para o câncer de mama: 65% das mulheres desenvolvem a doença até os 70 anos. Essa mutação também está associada a outros tipos de câncer, como os de ovário, intestino, fígado e útero.

 

O teste genético para identificar a mutação será indicado pelo especialista diante de uma análise criteriosa da história familiar e das características da doença. As pessoas identificadas como portadoras desses genes alterados devem permanecer em acompanhamento médico contínuo, sendo submetidas a programas de rastreamento mais agressivos. Além disso, a cirurgia profilática para retirada das mamas e ovários, em torno dos 40 anos, também pode ser discutida.

 

Um terço dos casos de câncer no mundo é causado pelo fumo.

Veja mais dicas de saúde

× Como posso te ajudar?