Quando desconsideramos os casos de câncer de pele, o câncer de próstata é o tipo de câncer mais comum em homens, sendo geralmente diagnosticado depois dos 50 anos de idade. A boa notícia é que, se diagnosticado e tratado de forma precoce, ele possui cura.
Diagnóstico
A próstata é uma pequena glândula, localizada abaixo da bexiga e acima do reto, que produz um fluido envolvido com o transporte de espermatozoides. No estágio inicial da doença, muitos pacientes são assintomáticos. Quando há sintomas, em geral, são os mesmos do crescimento benigno da próstata: dificuldade de urinar e necessidade de urinar com mais frequência.
Outros sintomas, como sangue na urina (hematúria) e sangue no esperma (hematospermia), são raramente observados no momento do diagnóstico do câncer de próstata, sendo mais comuns em homens com hiperplasia prostática benigna.
Independentemente da presença ou não de sintomas, o diagnóstico do câncer de próstata tem início com a dosagem do nível do antígeno prostático específico (PSA) no sangue e o exame de toque da próstata, por via retal. Além disso, a ultrassonografia da próstata também traz informações importantes sobre o órgão.
Antígeno prostático específico – PSA
O PSA é uma proteína produzida pela próstata. Sua principal causa de elevação no sangue é a hiperplasia prostática benigna, podendo também ocorrer em casos de infecção da próstata (prostatite), trauma local ou atividade sexual. Antes de realizar o teste, é necessário ficar pelo menos 48 horas sem ejacular ou andar de bicicleta.
Nível elevado de PSA não significa que exista um câncer de próstata
Diante do aumento do PSA e alterações da próstata reconhecidas no toque ou no ultrassom, o médico geralmente opta pela realização de uma biópsia direcionada por ultrassom retal.
A análise do material colhido pelo patologista traz a confirmação do diagnóstico de câncer e permite estimar a agressividade do tumor, de acordo com sua aparência ao microscópio (a chamada graduação de Gleason). Quanto maior for o escore de Gleason, mais agressivo é considerado o tumor.
Tratamento
Estágios I e II – Doença localizada
Nos casos em que o tumor esteja restrito à próstata, duas estratégias mostram-se igualmente eficazes: a remoção cirúrgica completa (prostatectomia) e a radioterapia (teleterapia ou braquiterapia).
O sucesso desses tratamentos é comparável. O paciente deve, portanto, participar ativamente da escolha. Eventualmente, em casos considerados de baixo risco, será possível retardar o início do tratamento até que se observe progressão da doença. Esse método de acompanhamento sem tratamento imediato é conhecido como observação vigilante (do nome em inglês watchful waiting).
A decisão terapêutica levará em conta a idade, as condições de saúde e as preferências de cada paciente, além das características do tumor.
Estágio III – Localmente avançado
Nesse estágio, o câncer está em uma fase mais avançada, já tendo ultrapassado os limites da próstata e invadido regiões vizinhas, como a vesícula seminal. Para esses casos, geralmente, é recomendado o tratamento combinado que poderá incluir cirurgia, radioterapia e supressão hormonal.
Estágio IV – Doença metastática
O tratamento do câncer de próstata metastático evoluiu muito nos últimos anos, permitindo que os pacientes vivam por mais tempo, com um melhor controle dos sintomas decorrentes da doença.
A primeira linha de tratamento no câncer de próstata metastático é a supressão hormonal. Isso significa impedir que o hormônio sexual masculino estimule o crescimento e a duplicação das células tumorais, pelo bloqueio à produção de hormônio pelo testículo. Há três formas de se conseguir atingir esse objetivo:
- Pela retirada cirúrgica dos testículos (orquiectomia ou castração cirúrgica);
- Por medicamentos que inibam a produção desse hormônio pelo hipotálamo;
- Pelo bloqueio à ação do hormônio no interior das células da próstata.
Durante o período em que a doença responde a essas medidas, dizemos que a doença é hormônio-sensível (ou sensível à castração). Entretanto, após um tempo, que varia para cada paciente, é comum se desenvolver o fenômeno de resistência à terapia hormonal. Nessa fase, apesar dos níveis baixos de testosterona na circulação, o tumor consegue retomar seu crescimento, volta a produzir o PSA, novamente detectado no sangue, e a causar sintomas.
Quando isso ocorre, a aplicação de quimioterapia sistêmica é ainda capaz de proporcionar bons resultados no controle da doença e de seus sintomas. Sendo o principal agente quimioterápico no tratamento do câncer de próstata, o docetaxel. Além disso, novos agentes que interferem com a atividade de androgênio ainda podem ser considerados.
De fato, nos últimos anos, apareceram muitas novidades para o tratamento do câncer de próstata. Novos medicamentos recentemente lançados vêm se mostrando muito eficazes nesse contexto de aparente resistência ao tratamento hormonal. Todos eles devem ser prescritos por um oncologista que avaliará o que é mais indicado para cada caso. Abaixo, uma relação dos principais deles:
- Cabazitaxel – Agente quimioterápico indicado após falha ao docetaxel.
- Abiraterona – Medicamento que bloqueia a produção de testosterona pelos testículos, pelas glândulas suprarrenais e pela própria próstata.
- Alfaradin – Radioisótopo injetável com alta afinidade pelo tecido ósseo. Demonstrou eficácia contra lesões metastáticas ósseas.
- Enzalutamida – Bloqueia os receptores de testosterona.
- Sipuleucel-T – Vacina produzida a partir de células do próprio paciente, com objetivo de estimular sua resposta imunológica contra o tumor.
A possibilidade de administrar sequencialmente esses medicamentos criou um cenário bem mais favorável para pacientes com câncer de próstata avançado.
Fatores de risco e prevenção
Entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de próstata estão a idade – quanto mais avançada, maior a possibilidade –, a presença de casos na família – em especial pai e irmão –, a raça – homens negros apresentam maior risco de desenvolver tumores mais agressivos – e a obesidade.
Rastreamento para o câncer de próstata
Rastrear significa realizar testes que visam reconhecer doenças antes que possam determinar sinais ou sintomas. Apesar de amplamente divulgado, o rastreamento populacional para o câncer de próstata não conseguiu reduzir a mortalidade no grupo submetido a exames, quando comparado ao controle. Dessa forma, a lógica de que o diagnóstico precoce ampliaria as chances de cura, reduzindo o risco de morte por câncer de próstata na população acompanhada, não se confirmou.
Por isso, o rastreamento do câncer de próstata está indicado apenas em situações de risco notoriamente aumentado. No caso de pessoas sem indícios de risco aumentado para o câncer de próstata, a realização de exames de rastreamento deve ser discutida com o próprio paciente, levando em consideração os riscos e benefícios para cada caso.
O uso de medicamentos capazes de reduzir a exposição do tecido prostático à ação do hormônio masculino, para prevenir o câncer de próstata em pacientes com risco aumentado, ainda é controverso. Embora alguns estudos tenham demonstrado que a finasterida e a dutasterida são capazes de reduzir o risco de desenvolvimento do câncer de próstata, a utilização dessas medicações resultou num aparente aumento do número de casos de cânceres de próstata mais agressivos. Por isso, essa estratégia (quimioprevenção) deve ser considerada experimental.